Ruídos na audição
por MARCIO GRAHL
Quem tem contato com som e não toma os devidos cuidados é um forte candidato a ter problemas auditivos e até ficar surdo
Apesar de toda a divulgação na revista dos campeonatos de pressão sonora, que estão se tornando rotineiros em todo o território brasileiro, achei que já estava na hora de alertarmos sobre os perigos dos efeitos de alto volume em nosso organismo. Este será o primeiro capítulo de uma série de três, a serem publicados intercaladamente, em que iremos reproduzir, com base em livros científicos, informações e conselhos para nossos amigos continuarem competindo sem afetar seus ouvidos.
"Quando estamos expostos a ruídos em geral, nossos ouvidos são dotados de mecanismos protetores que alteram a sensibilidade auditiva durante e após a estimulação acústica. Sofremos a ação de um fenômeno, descrito como mascaramento, toda vez que a percepção de um som é diminuída em presença de um ruído de maior intensidade que encubra este som. Se nossa sensibilidade auditiva é reduzida durante a apresentação de um estímulo sonoro intenso e duradouro, dizemos que houve adaptação auditiva. Quando isso ocorre, porém, após o término do estímulo, entramos em fadiga auditiva, também chamada mudança temporária no limiar.A diferença entre adaptação e fadiga auditiva é que a primeira é um fenômeno peri-estimulatório e a segunda, pós-estimulatório.0s efeitos do ruído na audição podem ser divididos em três categorias, segundo MELNICK (1985): mudança temporária no limiar (TTS — Temporary Threshold Shift); trauma acústico e mudança permanente no limiar (PTS — Perma-nent Threshold Shift), também chamada entre especialistas de Perda Auditiva Induzida pelo Ruído (PAIR).A mudança temporária no limiar (TTS) ou fadiga auditiva é uma diminuição gradual da sensibilidade auditiva com o tempo de exposição a um ruído contínuo e intenso. Tal redução no limiar auditivo é um fenômeno temporário, quer dizer, a audição volta ao normal mediante um período de repouso auditivo, que varia de caso para caso. Ruídos de baixa freqüência não produzem tanta fadiga auditiva quanto os de alta freqüência, principalmente no espectro de 2000 Hertz a 6000 Hertz e in-tensidades entre 60 e 80 decibéis. A maior parte da TTS tende a ser recuperada nas primeiras duas ou três horas após cessada a estimulação sonora (MERLUZI, 1981).
A expressão trauma acústico está restrita somente aos efeitos da exposição única a um ruído de grande intensidade, proveniente de uma explosão, isto é, ruídos de impacto ou impulsivos, considerados os mais nocivos ao ouvido humano por produzirem lesões mecânicas irreversíveis na cóclea.Caracteriza-se por uma perda auditiva súbita neuro-sensorial, podendo ser uni ou bilateral, com queda audiométrica acentuada em forma de V na faixa de freqüências entre 3000 e 6000 Hz (MERLUZI, 1981).
A mudança permanente no limiar (PTS), ou perda auditiva induzida pelo ruído (PAIR), ou perda auditiva ocupacional, é decorrente de exposições a ruídos, que são repetidos constantemente, normalmente diariamente, por um período de muitos anos. Em geral, a PAIR desenvolve-se lenta e gradualmente, em decorrência de exposição a ruídos contínuos ou intermitentes.
Em sua fase inicial, a perda auditiva pode assumir um caráter temporário, acompanhada de sensação de ouvido tampado, abafamento auditivo e até zumbidos, isto é, barulhos subjetivos no ouvido.Posteriormente, o limiar auditivo não se recupera mais, dando lugar a uma perda auditiva neuro-sensorial bilateral mais acentuada para as altas freqüências (acima de 3000 Hz), o que leva a dificuldades de compreensão de fala, principalmente em presença de ruído ambiental e intolerância a sons intensos (recrutamento). Há uma lesão nas células ciliadas da orelha interna (MERLUZZI, 1981).É importante lembrar que os efeitos do ruído na audição são resultados diretos de alguns fatores, tais como intensidade e freqüência do ruído, tempo e local de exposição, além da susceptibilidade individual ou característica pessoal.0s efeitos não auditivos do ruído também merecem destaque. Alterações no organismo como um todo já foram observadas. São ações sobre os aparelhos circulatório, digestivo e muscular, o metabolismo e o sistema nervoso. Há ainda interferência com o sono, diminuição do rendimento no trabalho e atividades físicas em geral, distúrbios de equilíbrio, problemas psicológicos, dores de cabeça, mudanças repentinas de humor e ansiedade."
Texto extraído do livro Acústica e Psico-acústica, de autora Haydée Pacheco Russo, mestre em Fonoaudiologia da PUC-SP
SETEMBR0/2000
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